sexta-feira, 26 de março de 2010

Brena Braz - Eu queria fingir

Brena Braz é uma das autoras de alguns dos melhores textos que já encontrei na internet, dona do blog "Até onde vai", sempre ganhou visitas minhas mesmo quando eu não tinha o meu para segui-la.
Este é um de seus muitos textos que  gostei e me identifiquei, espero que gostem também!

Eu queria ser famosa. Estampar as capas das revistas com minha felicidade instantânea e dizer que estou ótima depois de uma separação traumática. Queria ir pro Big Brother e fazer melhores amigos em uma semana. Queria dizer que amo com um mês de namoro. Queria achar super normal que o cara que eu amo conversa no MSN com mulheres que ele acha gostosas. Queria que, quando alguém me chamasse de gostosa, isso fosse um elogio ao meu caráter e não um “eu te comeria se você me desse mole”. É provável que eu fosse mais feliz assim.
Mas eu sou tradicional. Sou convencional, apesar de não ser normal. Se eu me corto, eu sangro. Se bato o dedo no pé da mesa, dói. Sou uma pessoa comum. Acredito no até que a morte nos separe e também no eterno enquanto dure. Acredito que, se eu sou capaz de ser fiel, alguém mais pode ser. Acredito que eu não sou uma laranja, mas preciso da minha outra metade pra me sentir inteira. Valorizo as pequenas atitudes, assim como condeno pequenas mancadas. Sou rancorosa, guardo por anos uma coisa que me magoou de verdade. Sei perdoar. Passo por cima dos erros pra ficar junto das pessoas que eu gosto. Tenho meus limites. O primeiro deles é meu amor-próprio. Perdôo uma vez, porque errar é humano. Perdôo duas porque o ser humano é estúpido às vezes. Mas não posso viver perdoando porque isso seria incompetência minha.
Acredito que as pessoas aprendem com os próprios erros e com o tempo. Acredito também que quem traiu uma vez e foi perdoado vai trair de novo. Acredito que aquelas pessoas que vivem falando mal dos outros vão falar mal de você com esses outros. Acredito que as pessoas só mudam por vontade própria e nunca pelo pedido de outra pessoa. Acredito que tudo que eu acredito hoje vai mudar com o tempo. E que, no futuro, talvez, eu acredite em menos coisas. Ou em nada mais.
Nunca vendi meu corpo, nem nunca sequer considerei essa possibilidade. Eu sei exatamente o tipo de homem que sai com puta. E esse tipo me dá náusea. Nunca precisei experimentar drogas pra pertencer a nenhum grupo. Me dou bem com todo tipo de gente e as pessoas costumam gostar de mim apesar do que eu sou. Tenho verdadeira repulsa por homem mulherengo. Detesto aquele tipinho “caminhoneiro” (que fala pra esposa que tem uma em cada ponto, mas ela é a única que ele ama). Detesto mulher corna que se explica pras pessoas “mas ele me ama”. Sexo com outras pessoas só é perdoado quando é o homem que faz. Detesto homem machista. Detesto o tipinho que vai pra farra enquanto a mulher tonta espera em casa. Detesto mulher tonta.
Eu queria ser famosa pra fingir que não sinto dor. Pra fingir que sou perfeita na capa das revistas masculinas. Pra fingir que não preciso fingir. Queria ser famosa pra ser uma fruta e não uma cabeça que pensa. Mas escrever nunca deu dinheiro, nem capa de revista, nem melhores amigos no Big Brother. Escrever é pra pessoas de quinta como eu, que não vão fazer seu primeiro milhão vendendo o que tem no meio das pernas pra adolescentes de 30 anos de idade. Queria ser famosa pra experimentar uma vida que, dizem por aí, é melhor que a minha. Queria ser famosa pra ver se eu conseguiria ser eu.

7 comentários:

  1. Elaine, que texto maravilhoso é este?
    Essa menina é meu clone! (Rs)

    Realmente, ser TODA coração não é uma postura aceita pelos outros. As pessoas mudaram muito, hoje todo mundo tem que ter sangue de barata!

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  2. Entendo perfeitamente cada vírgula desse texto, e me identifico extremamente com o último parágrafo. Mas ainda prefiro continuar sem ganhar dinheiro escrevendo e ser uma pessoa de quinta. Afinal de contas, ela é feliz assim e eu também. Rá!

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  3. que texto maravilhoso ! parabens pela escolha.. essa moça é talento puro.. lindo dia para ti..beijão

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  4. o inicio do seu texto falando sobre famosos foi demais, apenas eu usaria uma imagem com uma mascara belíssima e um rosto com expressão muito feia por baixo ...

    infelizmente parece que a embalagem está tendo mais valor que o conteúdo

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  5. lindo texto. parabéns!

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  6. Oi Elaine,
    Realmente um texto excelente. E acabei de visitar o blog de Brena. Gostei muito.

    E Elaine, muito obrigada a você pelo link do blog de Flavia.

    Um forte e carinhoso abraço

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  7. Maravilhoso!
    A Brena escreve demais.

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